Diálogos sobre Cientificismo



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Mario Bunge e Steven Pinker são conhecidos por defender uma visão moderada do cientificismo.
“Por vezes, quando digo que sou cientificista, as pessoas me dizem: “Então, você quer aplicar o método científico nas artes, na música e na ética?” Eu digo que não. No entanto, a definição de cientificismo não entraria em conflito com isso? Por exemplo, “a ideia de que a ciência é a melhor forma para conhecer o mundo”. Isso também implica em áreas subjetivas (nas artes, na música, por exemplo) ou apenas em áreas que tendem a explicar algo objetivo sobre o mundo (o universo, o comportamento humano ou animal, a sociedade, a cultura) pela ciência (na astronomia, na psicologia, na sociologia, por exemplo)?”
Gustavo Esteban Romero — O cientificismo não é uma doutrina que quer aplicar a ciência em todos os níveis, mas que a ciência é a melhor metodologia que temos para conhecer o mundo e possibilitar o desenvolvimento tecnológico. O termo também implica que temos uma valorização altamente positiva no papel da ciência no desenvolvimento da cultura, em particular, e da sociedade em geral. Infelizmente, a palavra “cientificismo” é usada em tom depreciativo para significar “alguém que pensa que só a ciência é importante” ou que dentro da ciência só importa estimadores quantitativos para medir o êxito do cientista. O responsável por esta última afirmação foi um argentino: Oscar Varsavsky, que publicou um panfleto intitulado “Ciencia, Política y Cientificismo”, onde ataca a ciência básica e advoga por uma ciência ideologizada. Hoje em dia, ele é considerado um campeão em certos círculos da Argentina e Venezuela. [1]
Daniel Galarza Santiago — Ser cientificista simplesmente significa aceitar que a melhor ferramenta para produzir conhecimento sobre o universo (e sobre nós mesmos, obviamente) é a ciência. A arte, a música, entre outras, não são campos do conhecimento e, portanto, não estão em conflito com uma postura cientificista. Para estudar a arte, é claro, não há maneira melhor do que utilizando a ciência (assim como pela história e sociologia da arte, assim como pela psicologia e até mesmo neurociência, mais especificamente um novo ramo da neurociência: a neuroestética).
A ética é um tema aparte, mas podemos fazer três tipos de perguntas distintas sobre ela:
1. Como se originou e por quê?
2. Como funciona o comportamento moral?
3. O que devemos considerar como moralmente correto?
É claro que aqui é possível derivar inúmeras outras questões igualmente problemáticas e fascinantes. A primeira é uma questão que pode ser investigada a partir da biologia evolutiva até a antropologia biológica. A segunda é um tipo de questão que pode ser investigada pela neurociência, pela ciência cognitiva e pela psicologia social. A última questão é de natureza filosófica.
Não é uma questão de como ela funciona ou surgiu, nem de como podemos investigar estas questões, mas o problema de como devemos pensar a moral e de qual sistema de raciocínio moral é o mais adequado para a nossa questão de convivência social. Assim, a ciência tem muito mais a dizer sobre a ética, mas é claro, ela não absorve e nem reduz às explicações evolutivas. [2]
NOTAS
[1] Gustavo Esteban Romero é físico e professor de astrofísica, sendo também filósofo da ciência. Suas contribuições vão desde a pesquisa em astrofísica relativística a divulgação científica, bem como as contribuições para a filosofia exata.
[2] Daniel Galarza Santiago é estudante de filosofia pela Universidade de Guadalajara, e busca se especializar em filosofia da ciência. Seus principais interesses filosóficos são em filosofia da biologia, filosofia da história, filosofia da pseudociência, assim como também em divulgação científica. É criador dos blogs El Escéptico de Jalisco e La Pipa de Russell.
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